Vale do Taquari reivindica laboratório de análise de solos

Vale do Taquari reivindica laboratório de análise de solos

Liderado pela Fundação Agrícola Teutônia e parceiros, projeto estima investimento de R$ 923 mil e busca recursos. Iniciativa vai ao encontro dos movimentos de recuperação das áreas rurais atingidas pelas cheias

Iniciativa foi apresentada em reunião com a participação de representantes do poder público, cooperativas, entidades, imprensa, produtores rurais e lideranças, especialmente organizações ligadas ao agro regional

A Fundação Agrícola Teutônia (FAT), entidade mantenedora do Colégio Teutônia, está à frente de projeto que viabilize a instalação de Laboratório de Análise de Solos do Vale do Taquari junto ao educandário. A iniciativa foi apresentada na noite de terça-feira (04), durante reunião com a participação de representantes do poder público, cooperativas, entidades, imprensa, produtores rurais e lideranças, especialmente organizações ligadas ao agro regional. Na oportunidade também foi constituída comissão representativa que irá levar e apresentar o projeto aos governos estadual e federal em busca de apoio e recursos que viabilizem sua concretização, cujo investimento estimado é de R$ 923 mil.

“O Vale do Taquari e o Estado foram severamente atingidos pelas cheias. Além das áreas urbanas, empresas e rodovias, o campo também foi muito afetado. O Laboratório de Análise de Solos busca contribuir com as áreas impactadas pelas enchentes, recuperando suas propriedades produtivas e melhorando a produtividade das diferentes culturas que nos caracterizam como o ‘Vale dos Alimentos’”, destacou o diretor do Colégio Teutônia, Mauro Alberto Nüske.

O presidente da Diretoria Executiva da FAT, Samuel Maders, valorizou o histórico da entidade no trabalho de formação, qualificação e serviços relacionados ao agronegócio, justificando o envolvimento da entidade no novo projeto. “Desde 1952 a Fundação Agrícola Teutônia desenvolve ações que fazem a diferença na vida de muitas pessoas, mantendo parcerias sólidas que contribuem para esse trabalho sério e diferenciado. O laboratório é algo que vem sendo sonhado e planejado há muitos anos, e o momento atual reforça a urgência pela sua implantação, diante de um Vale que teve suas atividades no campo duramente prejudicadas, com perdas ainda incalculáveis. Precisamos da união de esforços e do apoio do Estado e da União para que esse projeto se viabilize, dando a sua importante contribuição nesse processo de reconstrução econômica, social e ambiental do Vale do Taquari”, defendeu.

Serviços

O biólogo, professor e secretário de Administração de Bom Retiro do Sul, Carlos Dullius, detalhou a proposta de prestação de serviços e atuação do Laboratório de Análise de Solos, que deverá atender principalmente a região do Vale do Taquari, caracterizada por pequenas propriedades rurais familiares e indústrias de alimento que beneficiam e agregam valor à produção primária, além de ser reconhecida pela atuação do sistema cooperativo. “As características regionais reafirmam a necessidade de sermos cada vez mais eficientes na pequena propriedade, realidade que foi modificada pela ocorrência das últimas enchentes, resultando em solos completamente degradados. Um dos propósitos do laboratório é auxiliar nesse sentido, agilizando as análises de solo, reduzindo tempo e custos logísticos, principalmente neste momento em que a demanda será bastante elevada”, explicou Dullius.

Além da prestação de serviços, a proposta também tem caráter que integra ações de pesquisa e extensão, com projetos que atenderão interesses públicos. No rol de análises físicas, o laboratório realizará análises de umidade do solo (volumétrica e gravimétrica), distribuição do tamanho e estabilidade dos agregados, análise granulométrica, de densidade de partículas e do solo, porosidade, condutividade hidráulica e resistência mecânica do solo à penetração das raízes, bem como análise dos dejetos orgânicos de animais (líquidos e sólidos), análise foliar, análise físico-química e análises específicas para o cultivo de orgânicos considerando a perspectiva regional. “De forma geral, o intuito é atender demandas que promovam a melhoria da ocupação do solo, aumentando a produtividade e eficiência com um viés sustentável”, resumiu o biólogo.

Infraestrutura

O laboratório deverá contar com infraestrutura junto às instalações do Colégio Teutônia ou, inclusive, na granja, em espaço específico, com equipamentos de alta tecnologia e corpo técnico profissional qualificado. A mobilização nesta etapa do projeto está na busca de apoio e aporte de recursos financeiros a serem investidos na estrutura, em equipamentos, reagentes e vidrarias. A Fundação Agrícola Teutônia assume custos com pessoal e manutenção da estrutura física, cuja equipe deverá contar com cinco profissionais. “Projetamos um laboratório de primeiríssima linha, fazendo parte de rede que controla a qualidade de serviços prestados. Isso requer materiais e equipamentos caros, de alta tecnologia, que garantem a precisão dos serviços”, pontuou Dullius.

Pesquisa de mercado realizada com dados do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Corede) calcula 37 mil clientes em geral na região, com estimativa mensal de até 800 amostras de solo.

Olhar para o campo

O presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), prefeito de Bom Retiro do Sul, Edmilson Busatto, participou da reunião de apresentação do projeto e defendeu apoio. “O Vale do Taquari e o Estado passam por momentos de dificuldade após as enchentes de 2023 e 2024. Isso reforça ainda mais a necessidade do laboratório na região em busca de alternativas e apoio ao campo. O envolvimento da Fundação Agrícola Teutônia e do Colégio Teutônia é a certeza de um trabalho bem feito e com resultados, a exemplo de outros projetos que o próprio município de Bom Retiro do Sul já desenvolve com o educandário”, referendou.

O presidente liquidante da Cooperativa Languiru, Paulo Birck, pediu urgência para o desenvolvimento do projeto. “Há uma grande preocupação com a viabilidade das atividades no campo. Precisamos recuperar o solo e, sozinhos, os produtores rurais não vão conseguir fazer esse trabalho. O desafio é muito grande e não podemos errar, sob pena de aumentarmos ainda mais os prejuízos e vermos o campo se tornar inviável, com as famílias abandonando suas propriedades”, alertou.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia, Westfália e Poço das Antas, Liane Brackmann, e o coordenador sindical regional, Marcos Hinrichsen, defenderam que o solo dá sustento e gera oportunidades de negócio, renda, empreendedorismo e atuação de escolas técnicas. “Estamos vivendo um teste de resistência e, ouvir falar do Laboratório de Análise de Solos nesse momento é ainda mais importante. Há propriedades que viraram laje depois das enchentes. Precisamos pensar no solo, na água, na mata ciliar, na reserva de vegetação nativa que foi embora. Precisamos apoiar a agricultura familiar e ajudar na sua recuperação e motivação para seguir produzindo no campo”, disse Liane, ao que acrescentou Hinrichsen: “precisamos discutir os grandes desafios que o clima nos apresenta”.

O gerente adjunto do escritório regional da Emater de Lajeado, Carlos Lagemann, enalteceu a inciativa da FAT e do CT, com olhos atentos à inovação e sustentabilidade do campo, valorizando as parcerias. “A agricultura é muito dinâmica e precisa ser constantemente atualizada, acompanhando de perto essa evolução da forma de produzir alimentos. Nos nossos 55 escritórios da Emater da regional Lajeado, que atende os Vales do Taquari e do Caí, passam em média 1,6 mil análises de solo interpretadas pelos nossos técnicos e oriundas de laboratórios de Santa Cruz do Sul, Caxias e Porto Alegre. É muito importante estarmos mais próximos, com laboratório local e com acreditação de rede oficial, o que dá credibilidade e confiabilidade nas indicações que nossos profissionais fazem aos produtores rurais. A produção de alimentos passa pela qualidade do solo”, avaliou.

O prefeito de Teutônia, Celso Aloísio Forneck, parabenizou o Colégio Teutônia pelo pioneirismo na busca por soluções. “O novo laboratório vem ao encontro das necessidades locais e regionais”, disse.

Representando o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) regional, Régis Amaral, que também é vice-presidente do Conselho Agropecuário do Vale do Taquari, lembrou a demanda crescente e constante por alimentos. “Ciência e tecnologia na agricultura são essenciais para superarmos o desafio da produção de alimentos, e isso também precisa estar acessível aos agricultores. Temos um desafio gigantesco a partir dos danos climáticos, e o laboratório deve tornar as análises de solo mais acessíveis e ágeis a partir da otimização logística, o que impulsiona o desenvolvimento rural regional”, concluiu.

Comissão representativa

Comissão representativa irá levar e apresentar o projeto aos governos estadual e federal em busca de apoio e recursos

A comissão representativa que irá levar e apresentar o projeto aos governos estadual e federal em busca de apoio e recursos que viabilizem a concretização do Laboratório de Análise de Solos do Vale do Taquari conta com a participação de representantes da Fundação Agrícola Teutônia, do Colégio Teutônia, da Amvat, da Emater, do MPA e da Cooperativa Languiru.

A reunião de apresentação do projeto teve a participação de cerca de 50 pessoas e ainda contou com representantes da Cooperagri; CIC Vale do Taquari; CIC Teutônia e Federasul; Certel; Sicredi; Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); Associação de Prestação de Serviços e Assistência Técnica (APSAT); Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS); e lideranças políticas.

TEXTO – Leandro Augusto Hamester

CRÉDITO DAS FOTOS – Leandro Augusto Hamester